Jornal do Psicólogo

Thursday, September 29, 2005

Condições adversas de trabalho são discutidas no 1º SNPT

Júnia Leticia

Com o objetivo de estabelecer o diálogo entre diferentes segmentos sociais que participam das ações voltadas para a saúde do trabalhador, o Conselho Federal de Psicologia, os regionais e a Comissão de Psicologia do Trabalho e Organizacional do CRP-04 promoveram o 1º Seminário Nacional de Psicologia do Trabalho (SNPT). O evento, realizado nos dias 28 e 29 de maio, no Instituto de Educação de Minas Gerais, reuniu psicólogos, estudantes, profissionais de diferentes áreas e trabalhadores para discutir a presença ou as ausências de políticas públicas relacionadas à Psicologia do Trabalho.

Saúde do Trabalhador – Olhares, escutas e ações: A Psicologia em diálogo foi o tema do seminário aberto pelo Presidente da CPTO, Humberto Cota Verona; pelo Presidente do CRP-08, Dionízio Banaszewski; pela Presidente do CRP-04, Marta Elizabeth de Souza; pela conselheira do CRP-06, Renata Paparelli e pela conselheira do Conselho Federal de Psicologia, Rosimeire Aparecida da Silva.

A escolha do tema para o evento deveu-se, segundo Humberto Cota Verona, ao crescimento do campo Psicologia do Trabalho no Brasil: “O seminário teve como objetivos promover o diálogo com outros segmentos e fomentar a discussão do tema Trabalho no interior da Psicologia. O resultado foi a altíssima qualidade do evento. Acredito que os psicólogos puderam ter uma idéia muito clara e abrangente desse campo. Espero, ainda, que o seminário tenha gerado nos estudantes de Psicologia o interesse pela área, para que eles possam provocar a introdução dessa disciplina nos currículos.”

“O 1º SNPT deu o ponta pé inicial, partindo exatamente da Psicologia, para que possamos começar esse debate e lutar para incluir, em paridade de condições com a Medicina e a Engenharia, o psicólogo na MR-4, da Lei 6.514, Portaria 3.214/78”, opinou Dionísio Bananszewski, Presidente do CRP-06 (Paraná). Mesmo com a existência de grupos que discutem a Psicologia do Trabalho, o Presidente do CRP-06 acredita que é necessário uma união muito forte de todos os psicólogos para levar o assunto ao conhecimento do Legislativo e pressioná-lo a fazer a inclusão. “Nada melhor do que espaços como esse para que possamos amadurecer a idéia, levá-la adiante e consolidá-la de uma vez por todas”, acrescentou.

Para o Coordenador Nacional do Programa de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Marco Antônio Peres, as discussões que envolveram o seminário foram de fundamental importância: “A saúde do trabalhador tem como característica a interdisciplinaridade, pois mente e corpo não se dissociam nas relações de trabalho. Toda doença e agravo à saúde referentes ao trabalho estão relacionados com a mente e o espírito da pessoa, refletindo em impactos sobre a saúde física.” Arnaldo Marcolino, Assessor Sindical, integrante do Fórum de Saúde Mental e Trabalho/Plenária Municipal de Saúde do Trabalhador de São Paulo, acrescentou que o desemprego crescente levam à “coisificação” da pessoa, fazendo com que ela adoeça trabalhando: “O sonho de conquista do trabalhador desaparece quando ele é colocado em um lugar que não condiz com o que está no seu contrato.”

Uma das dificuldades expostas pelos palestrantes no seminário referiu-se ao nexo causal. “Existe ou não transtorno mental decorrente de condições adversas do trabalho? A polêmica já está instalada e nós estamos enfrentando uma série de dificuldades nesse campo. Os médicos e os juizes do trabalho se recusam a reconhecer o nexo causal quando os trabalhadores os procuram para denunciar sintomas que relacionam às suas condições de trabalho. A polêmica existe dentro do nosso próprio campo”, observou a psicóloga, mestre em Administração pelo Cepead e professora da UFMG, e especialista em Sociologia do Trabalho e doutora em Psicossociologia do Trabalho pela Universidade de Paris IX, Elizabeth Antunes Lima.

Vindo de Holambra (SP) para assistir ao 1º SNPT, o médico do trabalho Nicolas Schoenmaker ressaltou a importância de se focalizar mais o sofrimento mental. “O problema, freqüentemente, atinge trabalhadores em diversas empresas e tem relação com as condições de trabalho. Acho necessário maior vigilância, com a criação de ambientes sadios, tanto fisicamente, quanto mentalmente.”

OLHO

Uma empresa não pode ser socialmente responsável se não cuida, em primeiro lugar, de seu público interno, de seus trabalhadores. Eles representam a própria existência da empresa

Fernando Alves
Secretário Executivo do Conselho de Cidadania Empresarial e Voluntários das Gerais do Sistema Fiemg

BOX
Trabalhadores que fazem arte

Como é um dos instrumentos para levar o ser humano a abstrair-se, a arte teve seu espaço reservado no 1º SNPT. O artesanato produzido na Suricato – Associação de Trabalho e Produção Solidária de Belo Horizonte, painéis fotográficos intitulados O trabalho do carvoeiro, de Liliane Rosa e Osvaldo Afonso e os corais da SLU e SER-SÃ, de Divinópolis, mostraram como o trabalho pode ser um instrumento de crescimento individual e coletivo.

O Coral SER-SÃ, especificamente, mostrou como Serviço de Referência em Saúde Mental (Sersam), mesmo sem patrocínio, conseguem desenvolver, há seis anos, um trabalho de reintegração social por meio da arte. Com a música, os coralistas revelaram a força de seu trabalho.

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